Sob o Signo de Câncer

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                               Nice Albuquerque – corretora, advogada, mãe, esposa, amiga…

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Sempre cruzava com ela pelos corredores da Corretora onde trabalhávamos, mas não nos cumprimentávamos. Nenhum gesto meu ou dela aconteceu, para que fosse motivo de alguma aproximação.

Na minha avaliação – para não dizer julgamento – ela tinha uma expressão de amargura, de sofrimento, mas eu não entendia o poquê que a achava antipática, ao mesmo tempo em que penso que ela sentia o mesmo em relação a mim.  

Mas o mundo gira(!)

O destino acabou juntando nós dois numa sala de treinamento onde participávamos de palestras oferecidas pela Corretora a um grupo de profissionais selecionados.

Naquele dia, em que era dada a oportunidade para cada um falar sobre si, chegou a vez dela, que começou a falar diante de todos e da minha perplexidade.

 Estaria ela falando dela mesma ou era sobre mim?

Senti que estava sendo protagonista da teoria junguiana a qual afirma que o indivíduo, quando identifica um defeito no outro, está, na verdade, identificando o seu próprio defeito refletido.

A partir de então, comecei a nutrir uma simpatia por ela que, apesar de estranho, eu entendia em silêncio o porquê daquela mudança.

O tempo passou e nos separou ainda mais. Agora, quase não nos encontrávamos.

Veio o Facebook e o mundo virtual nos reaproximou.

Um dia ela me mandou uma mensagem, que me deixou abalado e reflexivo.

Internada para tratamento de um AVC, os médicos avançaram nos exames e encontraram uma área nebulosa na sua massa encefálica.

Desde então, Nice Albuquerque, que, além de corretora, mãe e esposa, fora, também aprovada no exame da OAB, passa a lutar consigo mesma num esforço hercúleo para entender a vida. Em particular, a sua própria.

Nesta última semana recebi a seguinte mensagem da Nice no meu fecebook:

“Oi Manu. Estou internada. Minha cirurgia será amanha cedo, você pediu pra te dá noticiais…to apavorada….tem tanta coisa que não entendo…”

Respondi com uma mensagem carregada de um poderoso otimismo e passei a mentalizar as melhores vibrações, não exatamente pela sua recuperação, mas pelo fortalecimento do seu espírito e da sua carne no enfrentamento com aquela inevitável e enriquecedora experiência.

Nice me respondeu:

“Muito, muito obrigada Manu!…nunca questionei o porque de tudo isso…achava que tudo estava certo…vc acredita”?

 Foi a última mensagem da Nice para mim. Pelo menos nesta dimensão.

No dia da operação, recebi o telefonema de um amigo que me informava o fracasso da cirurgia durante a qual fora diagnosticada a “morte cerebral” da nossa inesquecível amiga.

Ontem, sexta-feira, (15), às 16h40m, o corpo da nossa colega Nice Albuquerque, desceu à mansão dos mortos na Vila Alpina.

O mesmo lugar para onde eu, você e eles, iremos todos.

Resta saber, qual será a última mensagem que deixaremos para os que ficam. Se um agradecimento, como o que Nice deixou para mim, ou um pedido de perdão por algum mal que tenhamos feito ao próximo.

E o câncer – seja nos outros, seja em nós mesmos – tem essa função. Só é preciso que tenhamos a capacidade de entender.

Nós também agradecemos a você, Nice!

Esteja certa de que “qualquer dia, amiga, a gente vai se encontrar”.

 Emmanuel Ramos de Castro

Homenagem do Blog do Corretor à corretora Nice Albuquerque

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Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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