Época de denúncias

agenciaweber

agenciaweber

Por: Luiz Nassif .
Não dá para entender o novo modelo de denúncias da revista Época. Fica-se sem saber se a revista está com problema de falta de equipe de reportagem, ou a direção de redação padece da falta de conhecimento de negócios, para filtrar as matérias.

Denúncias envolvendo negócios têm sua complexidade. O repórter precisa saber a diferença entre operações habituais e as extravagantes, entender a lógica financeira para separar onde há suspeitas de negociata, onde há operações normais de mercado. Não basta obter um relatório da Polícia Federal se não houver discernimento para entender o tema e identificar o negócio.

Esta semana a matéria de denúncia da Época fala em "Os lobistas e os negócios da Petrobras na África".

O tom é de denúncia, o texto tem o estilo roteirizado das denúncias, cada episódio é tratado como se fosse uma denúncia. Quando se completa a leitura, não existe uma só denúncia na história.

Poderia ser matéria de negócios, mas não é, dado o tom de denúncia. Poderia ser matéria de denúncia, mas não é, por ter apenas o tom, sem apresentar uma denúncia.

Faz um check-list de tentativas infundadas de lobby, mostrando um superlobista que não consegue um resultado sequer.

Finalmente, joga no papel um conjunto de informações genéricas de negócios ? como, por exemplo, o fato público da associação entre Petrobras e BTG na África. E informa, judiciosamente, que consultou os personagens mencionados mas eles não quiseram se manifestar. Manifestar sobre o quê? ?Pactual, o que você tem a dizer sobre sua associação com a Petrobras na África??. ?Petrobras, o que você tem a dizer sobre sua associação com o Pactual na África??

Provavelmente o RP de ambas as empresas sugeriu ao repórter consultar os comunicados ao mercado. E com isso não deu as declarações entre aspas que poderiam ser utilizadas no texto. Extrair informações de textos técnicos é bem mais complexo.

A matéria toda tem 12.723 caracteres.

Trecho 1 – Viagem de Lula à África.

22% do texto. Todo o texto servindo apenas para informar que dois representantes de empresas estavam na comitiva, José Carlos Bumlai e Fábio Pavan. Legal! Viagens de negócios costumam ser feitas com representantes das empresas interessadas. Mas qual a relevância dos dois?

Restam 77%.

Trecho 2 – Perfil de Bumlai

Nos 10% seguintes, descobre-se que a razão de Bumlai estar na matéria é o fato de ser amigo de Lula. Menciona-se sua influência para indicar diretores para a Petrobras. E apresenta uma prova irrefutável: o fato de João Augusto Henriques ? também chamado de ?lobista? (na reportagem todos são lobistas) ? ter procurado o apoio de Bumlai para o influente cargo de diretor internacional da Petrobras. E não ter conseguido a indicação. 0 x 1 para o lobista.

Restam 67%.

Trecho 3 – os negócios do lobista em Acra.

27% da reportagem para narrar as aventuras empresariais de Pavan e da Constran em Acra ? que não deram certo. E relata o fato do superlobista ter ido atrás do apoio da Petrobras. E nada ter conseguido. 0 x 2 para ele.

Restam 41%.

Trecho 4 – negócios com o grupo Charlot.

18% para informar que os lobistas tentaram vender um poço do grupo Charlot para a Petrobras por US$ 150 milhões, antes de saber se o poço tinha petróleo. Mas sabendo que o Conselho de Administração não aceitaria, propuseram um sinal de US$ 8 milhões e o pagamento dos US$ 150 milhões só se saísse petróleo. Que não saiu. 0 x 3.

Restam 23%

Trecho 5 ? o acordo do BTGB e da Petrobras na África

11% para informar que a Petrobras juntou seus ativos africanos e vendeu parte para o BTG Pactual por US$ 1,5 bi. E que os dois lados lucraram com a operação. Informa também que ?procurado pela reportagem?, o BTG não se pronunciou. Mas se pronunciar sobre o quê, se não há um dado sequer a ser checado.

Restam 12%.

Trecho 6 – relacionamento Lula-Bumlai

12% finais para mostrar que Bumlai e Pavan assistiram à inauguração do escritório da Embrapa na África, na qual Lula estava presente. E também a relevante informação de que, procurado para falar do relacionamento com Bumlai, o Instituto Lula não quis se pronunciar. E também a relevante informação de que o superlobista Pavan procurou de todas as maneiras um contato com a Petrobras e nada conseguiu. 0 x 4

Não resta mais nada.

Compartilhar:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Email

Deixe um comentário

Você pode optar por ficar anônimo, usar um apelido ou se identificar. Participe! Seus comentários poderão ser importantes para outros participantes interessados no mesmo tema. Todos os comentários serão bem-vindos, mas reservamo-nos o direito de excluir eventuais mensagens com linguagem inadequada ou ofensiva, caluniosa, bem como conteúdo meramente comercial. Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

JORNALISTA

Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

Categorias

Veja Também:

Fale com o Blog!